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voltarICMS pesa mais sobre o pequeno varejista
As micro e pequenas empresas enquadradas no Simples Nacional estão pagando mais imposto do que o previsto na lei que criou o modelo de simplificação
Com o propósito de reduzir a carga fiscal e diminuir a burocracia  tributária, o Simples Nacional, criado em 2006 pela Lei Complementar nº  123, se transformou em um instrumento facilitador para as micro e  pequenas empresas que se enquadram na tabela desse sistema simplificado  de recolhimento de impostos. No entanto, o setor varejista gaúcho vem  enfrentando duas grandes dificuldades. Uma delas é o diferencial de  alíquotas, hoje de 5%, cobrado pelo governo estadual a fim de equalizar a  carga tributária nas compras de produtos de fora do Estado, e 13% para  os importados de outros países. Além disso, o setor reclama que as  empresas nessa modalidade acabam não usufruindo do seu real benefício em  razão de não possuírem créditos tributários dentro da cadeia. Ou seja, o  ICMS é cobrado na origem do produto, no fabricante, e o distribuidor, o  varejista, compra com o valor cheio, mas ganha um crédito no mesmo  percentual pago, de 12%. Porém, no caso do Simples, essa compensação não  acontece.
O proprietário da Loja Cats e Mouse, localizada no Shopping João  Pessoa, Jaime Schmitt, está repensando se permanece ou não nessa  modalidade fiscal. Há 18 anos no mercado, com quatro funcionários na  loja, Schmitt diz que a situação está difícil. “Se eu estivesse em outro  modelo, eu pagaria e me creditaria de novo, pois o ICMS tem crédito e  débito. Se eu debitar 12%, vou me creditar em 12%”, repensa. “No  entanto, o Estado me cobra 5% de diferencial de alíquota em todo o  produto que eu comprar de outro lugar. O grande vai pagar o percentual  cheio, os 17% do tributo estadual, mas vai diminuir os créditos que ele  teve na cadeia. Hoje eu estou no sistema simplificado na faixa de 8%,  mas acho um imposto desleal para com os pequenos”, reclama Schmitt. Ele  diz ainda que os grandes empresários possuem um poder de barganha com os  fornecedores que os menores não têm. 
Schmitt compra calçados de vários outros estados, em especial de São  Paulo e Minas Gerais. As grandes fábricas calçadistas do Sul, comenta  ele, não faturam mais por aqui, e, sim, pelas companhias situadas no  Nordeste, aonde se instalaram em razão dos incentivos fiscais emitidos  por aqueles estados. “Não tenho condições de comprar somente do Rio  Grande do Sul, ninguém consegue isso nesse ramo”, salienta.
Tributarista diz que exceções tornam o sistema complexo
As mudanças na carga tributária do Simples são o motivo da  insatisfação dos lojistas, já que a a alíquota não é unificada. “Há  certas operações que não entram no cálculo e é mais trabalhoso, pois nem  tudo o que se vende está no Simples, e isso exige um controle maior  para as empresas”, diz o consultor tributário da Fecomércio-RS Rafael  Borin. O problema, na opinião do consultor, é que a Lei Complementar nº  123 faz muitas exceções, como no caso de empresas que são denominadas  indústria e comércio, pois, nesse caso, vigoram duas tabelas diferentes.
Outra questão, conforme ele, é que na diferença de alíquotas, as  empresa precisam mandar mensalmente uma declaração, mas quando se criou a  LC nº 123, a ideia era enviar apenas uma declaração anual. “São essas  várias exceções que acabam criando um regime complexo”, comenta.
Para ele, em alguns casos, é mais fácil estar em outra modalidade  tributária, pois as regras são claras. “O ponto pior é entrar em um  sistema de pagamento achando que é fácil de ser operado e descobrir que  não é”.
Benefícios da modalidade ficam comprometidos
O peso dos impostos acabou sendo uma realidade enfrentada pela  Confraria Masculina, que tem quatro lojas na Capital enquadradas no  Simples. O proprietário da loja, Carlos Frederico Schmaedecke, que está  no mercado há 26 anos, diz que o pagamento do diferencial de alíquotas  do ICMS  inviabiliza a vantagem da simplificação. “Dependendo do tipo de  compras, pagamos mais imposto do que um lojista grande que se credita  de ICMS”, comenta. A alíquota do importado de 13%, Schmaedecke paga nas  roupas de inverno, em especial, nas jaquetas e casacos vindos de  Uruguai, Argentina e China. “O Simples até ameniza as questões  burocráticas, mas o Estado sempre cria uma nova burocracia”, reclama. 
O varejista de pequeno porte representa 70% das companhias do setor no  Estado e gera 44% dos empregos, de acordo com dados da Câmara dos  Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA). Para o presidente da  entidade, Gustavo Schifino, essas empresas estão pagando mais do que o  previsto na Lei Complementar nº 123. “Na prática, o diferencial de  alíquotas chega a representar até 20% de custos tributários, ou seja,  mais do que o dobro do teto definido”. Para ele, isso acaba com  capacidade de competição. “Infelizmente, o pequeno empresário gaúcho  está fechando as portas”, reforça.
Entidades pedem redução da carga tributária das MPEs
No início deste mês, o grupo de entidades representativas das micro e  pequenas empresas, entre elas Sebrae/RS, Fiergs, Fecomércio, Federasul,  FCDL-RS e Farsul, entregou documento ao deputado estadual José Sperotto,  coordenador da Frente Parlamentar das MPEs, solicitando providências  para redução tributária. Para o presidente do Sebrae/RS, Vitor Augusto  Koch, se o Executivo acolher as sugestões das entidades, estará  implementando melhorias no tratamento concedido a micro e pequenas  empresas gaúchas, medida que, segundo ele, beneficiará os diversos  setores da economia, e consequentemente a sociedade.
O teor da reivindicação sugere a alteração da legislação estadual  propondo uma compatibilização entre a carga tributária do Simples  Nacional e a sua apuração pela substituição tributária (ST), gerando uma  redução no ICMS devido pelas empresas de pequeno porte.
Estudos realizados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pelo Sebrae  Nacional mostram o impacto no emprego provocado pela ST. Cada 1% a mais  tributado no Simples significa uma redução de 1,38% na geração de  empregos. A FGV fez uma análise em todo o Brasil, observando estado por  estado, e o Rio Grande do Sul, conforme o gerente de Políticas Públicas  do Sebrae/RS, Alessandro Machado, vem sofrendo com isso. Os setores mais  afetados foram comércio e reparos automotivos, alojamento e  alimentação, artes, cultura, esportes e recreação, agricultura, pecuária  e pesca e a indústria da transformação. Baseado em dados da FGV, há a  constatação do aumento de R$ 65 bilhões para R$ 113,5 bilhões em  receitas sujeitas à substituição tributária. 
De acordo com o Sebrae, do total de 695,56 mil empreendimentos  existentes no Rio Grande do Sul, as MPEs representam 99,7%, totalizando  670,2 mil companhias. No Brasil, os pequenos empreendedores geram 56% da  ocupação. “São elas que seguram a barra”, diz Machado. A alternativa,  em sua opinião, é colocar em alguns produtos a ST, naqueles, por  exemplo, que são vendidos em larga escala. Outra forma é reduzir a  Margem do Valor Agregado (MVA), que é o valor do imposto que o governo  atribui ao produto.
Arrecadação do Simples representa R$ 800 milhões ao Estado
O subsecretário da Receita Estadual, Ricardo Neves Pereira, explica  que o diferencial de alíquota nas importações é uma forma de o governo  proteger a indústria local, para que ela não sofra com a concorrência  desleal. “Quando cobramos essa alíquota, estamos equilibrando a carga  tributária”, explica. O Estado tem 220 mil empresas optantes pelo modelo  simplificado com uma arrecadação mensal de R$ 40 milhões a R$ 50  milhões. Da arrecadação total anual de R$ 22 bilhões do ano passado, R$  800 milhões vieram desse sistema de arrecadação, de acordo com o  subsecretário. Segundo ele, o Estado já concedeu redução no imposto  quando implantou o Simples Gaúcho. “Hoje, cerca de 90% das empresas  optantes do Simples Nacional não pagam nada de ICMS”,  justifica.
De acordo com ele, do primeiro quadrimestre de 2012 para 2013, houve  um incremento na receita estadual de 50% devido às operações realizadas  diretamente por empresas do Estado, pois antes esses mesmos produtos que  estão sendo comprados das indústrias gaúchas vinham de intermediárias  de Santa Catarina.
Com a vigência da Resolução 13/2012 do Senado Federal, começou a  chamada guerra dos portos, na qual as diferenças de alíquotas do ICMS  permitem aos estados aplicar a alíquota de 4% nos produtos importados. O  produto que vinha de Santa Catarina, por exemplo, explica, vinham com  elevado beneficio fiscal. “Houve um momento em que o Estado valorizava o  produto importado, mas agora nós voltamos a uma redução de alíquota  interestadual para 4% com valorização dos produtos daqui?. O  subsecretário reconhece que a substituição tributária (ST) é outra das  grandes reclamações das empresas do Simples. O objetivo da ST, comenta, é  de que a cobrança do imposto fique em um ponto de melhor controle da  cadeia.
